quinta-feira, 28 de abril de 2016

Por quê você ainda faz downloads??



Quando eu era adolescente, no sertão do Ceará, o acesso aos produtos da indústria cultural eram bem restritos.

Traduzindo, fora a rádio da cidade que se dividia entre brigas políticas locais e os sucessos
brega music e forró sertanejo-universitário-eletrônico, não se tinha muitas opções para consumir música e filmes. 

Séries? Só o Mcgyver na Sessão Aventura.

Então, umas das maneiras de se conseguir material novo era fazendo uma cópia em K7 (lembra, tinha um botão pra copiar mais rápido que ficava parecendo Alvin e os Esquilos cantando) ou ir na capital comprar um caríssimo CD que só vinha com umas 10 músicas.

Aliás, que missão difícil, não? 

A gente não conhecia música nenhuma, banda nenhuma, chegava na Aki Discos ou na Tok Discos e tinha que escolher de maneira sábia um, dentre todos aqueles milhares de exemplares, em prateleiras separadas com grandes letras do alfabeto.

Eu tinha uma tática.

Normalmente, se eu queria conhecer uma banda nova, eu optava por um disco ao vivo ou por uma coletânea no estilho Best Of. Em tese, ali viriam as melhores músicas daquela banda. Se eu gostasse, investiria mais grana nos outros discos.
Aliás, foi assim que eu comprei o Tokyo Tales, do Blind Guardian, que tem uma capa pra lá de feia. Indicação do meu amigo Vinícius "Vinny" Peixoto.



Outra história legal é de como comecei a escutar Iron Maiden. Mas vai ficar pra outra vez. Já desviei demais do tema principal desse post. 

Voltando.

Mesmo após a onda de pirataria de CDs, nunca achei que a equação que envolvia preço, qualidade e ética estava satisfatória. 

Depois veio o formato mp3, que a preço zero, trazia uma ótima qualidade. Porém, a questão dos direitos autorais ainda era um pulga atrás da minha orelha com Headphones a tocar Nirvana. Afinal, o artista que suou pra compor e gravar (ok, as gravadoras também) não estava levando nada do que era seu por direito.

Pra completar e implementar a distribuição do mp3, vieram os sistemas P2P (tipo napster) e os torrents. Nisso, o CD foi ficando de lado, mesmo os piratas. Os originais ficaram reservados aos colecionadores, assim como ficaram os discos de vinis um dia lá atrás.

E aqui estamos!

Tem um trecho do livro O Otimista Racional, do jornalista especializado em ciência Matt Ridley, que fala o seguinte:

"Que século maravilhoso para se estar vivo!"

E em muitos aspectos eu concordo com ele. Um deles é a abundância de conteúdo disponível, a forma de distribuição e a forma de consumir e de se pagar por eles.

E aí chegamos no cerne deste post.

POR QUÊ ALGUMAS PESSOAS AINDA FAZEM DOWNLOADS

Não vou ser aqui hipócrita e dizer que nunca fiz download de conteúdo de terceiros. Talvez baixar um filme ou música se justifique num caso onde não haja a distribuição formal do conteúdo no seu país por exemplo.

Acho que o exemplo acima se enquadra na coluna de exceções. O que posso dizer é que atualmente há uma gama tão diversa de serviços que oferecem conteúdo de qualidade a um preço, na minha opinião, justo, que acho totalmente improdutivo e sem sentido ainda se dar ao trabalho de baixar qualquer filme ou música ou série. (me dei conta semana passada, quando tive uma trabalheira pra  "jogar" umas músicas pra dentro de um pen drive).

Senão vejamos: por aproximadamente 20 reais eu tenho uma assinatura do Spotify, por exemplo, que me dá direito a ouvir quantas vezes quiser um catálogo de músicas  muito maior do que acho que eu conseguiria ouvir na vida. E o melhor, os artistas recebem uma parte do que eu estou pagando.

MAS OS ARTISTAS RECEBEM MUITO POUCO!!

Claro que ajustes serão sempre necessários para evoluir qualquer modelo de negócios. E quem se sentir menos valorizado tem que correr atrás para reivindicar para si o que acha mais justo. É do jogo. Mas ninguém pode negar que receber uma parte pequena do bolo é melhor do que não receber por nada, enquanto assiste suas músicas voando de pen drive em hd por aí.

Outro efeito colateral positivo são as estatísticas. Através do app, o artista pode ver quantos ouvintes tem por mês, em qual país tem mais fãs, quais músicas suas são as mais ouvidas,  etc. Isso é uma puta informação para quem quer gerenciar e direcionar profissionalmente sua carreira. 

Ah e não vou nem falar dos artistas independentes que com certeza agora tem mais chances de aparecer e não precisam vender a alma ao diabo para fechar um contrato com uma gravadora. Claro que a competição pela atenção aumenta, pois muito mais gente vai ter essa oportunidade mundo afora.

VOCÊ ESTÁ FAZENDO JABÁ PRO SPOTIFY

Pra sair um pouco do Spotify (Ou deezer, Pandora, googleplay, itunes, etc), podemos falar também do Netflix. 

Alguém em sã consciência vai dizer que é caro pagar 19,90 por aquela penca de conteúdo? Ou então me dizer que já assistiu tudo que tem lá e vai cancelar porque não tem mais o que ver?

Eu poderia citar inúmeros outros exemplos, mas acho que o texto já está um tanto longo ( me empolgo com esse tema!).

Apenas para fechar o raciocínio, minha conclusão é esta: na minha opinião hoje temos modelo de produção, venda, consumo e pagamento de conteúdo que se não é o ideal para todos (e talvez nunca seja), está num nível bastante satisfatório de equilíbrio para as partes envolvidas no processo, sejam a empresa detentora do app, as gravadoras, os artistas e os consumidores. 

E você, o que acha??
Comenta aqui embaixo!!

2 comentários :

  1. Voltei no tempo, adoro quando a leitura me permite fazer isso. Achei Lindo quase tudo que li, mas fiquei com uma coceirinha no dedo pra comentar sobre o que concerne " download de filmes". Sou um conaumidor ávido por cinema independente e não consigo mesurar o tamanho dos filmes desse gênero se não fosse via download. Nesse exato momento tive um insight, por não se cria um netflix só com filmes independentes? <3 parabéns pelo texto.

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  2. Excelente retrospectiva!
    Acho mesmo que somos privilegiados por ter acesso a tanto conteúdo disponível, mas ainda acho que existem alguns tesouros escondidos por aí, que não são tão acessíveis assim..talvez nem mesmo disponíveis para download.
    Mas vamos lá, se assimilarmos pelo menos uns 5% do que está aí, já evoluiríamos um monte, né?! Mais assuntos, mais pontos de vista, mais opiniões diferentes...é disso que a gente precisa. E continue escrevendo, please! ;) Beijo!

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