quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

CONTO - Treta nossa de cada dia

Romero adorava acompanhar tretas.

Confusão, barraco, discussão.

Qualquer situação que gerasse o mínimo de desentendimento já o fazia interromper tudo o que estivesse fazendo, para acompanhar a peleja.

Briga de vizinho? Lá estava o Romero com o ouvido colado na parede.

O Chefe deu uma bronca no colega? O relatório ficava pela metade até que Romero descobrisse qual a burrada cometida.

Batida de trânsito? Ele passava devagarzinho, acompanhando tudo ao som da buzina do carro de trás.

E assim seguia a vida até que finalmente uma antiga paquera ressurgiu na vida de Romero.

Na verdade, Fernanda, seu grande amor platônico e com certeza alma gêmea para toda a eternidade.

Surgiu assim, no meio da rua. Num esbarro ao atravessar a faixa de pedestre.
Meio atrapalhada no início, a conversa logo tornou-se desinibida no bar da esquina, com a relembrança de momentos fantásticos há muito esquecidos por ela, mas não por ele.

Ela divorciada, sem filhos. Ele sem filhos, nunca casado. Trocaram telefones e marcaram de um dia sair para continuar o papo.

Era o dia mais feliz da vida de Romero. Estava prontinho, cheiroso e arrumado para apanhar a mulher da sua vida e dar continuidade ao que não tinha começado, mas tinha sido interrompido.

Ao girar a chave na saída de casa, escutou um sinal sonoro. O alerta do whatsapp informava sobre a chegada de um vídeo que envolvia motel, unhas e um tal gordinho da saveiro.

Estava sendo considerada A treta do ano! Saiu até em jornal de circulação nacional.

Girou a chave de volta, sentou-se no sofá e apertou o play.


Fernanda podia esperar.

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