“A Estrada” era uma boa escolha, a música falava sobre as dificuldades encontradas no meio de uma jornada vencedora: “você não sabe o quanto eu caminhei, pra chegar até aqui..”.
De arrepiar.
Joel não conseguia se conter de ansiedade aguardando a filha ser chamada ao palco na festa de formatura do curso de medicina.
Já era tradição: cada formando escolhia um trecho de uma ou mais músicas, que era tocada ao chamarem seu nome. Daí pra frente era um show de criatividade. Havia quem dançasse, cantasse, pulasse. Cada formando reagia de uma forma diferente naquele momento único de conquista na sua vida.
“’É Preciso Saber Viver” tinha uma mensagem linda. Falava de como aproveitar a vida da maneira mais sábia.
Podia ser essa também!
Sua filha Janaína sempre fora uma moça centrada e focada nos estudos. Sempre muito equilibrada, nunca “deu trabalho” aos pais.
Joel colocou mais uma dose do whisky 12 anos com gelo de água de côco que comprara com orgulho para servir aos parentes, principalmente a tia Lindalva, que era a única na família que tinha um filho médico. E fazia questão de lembrar a todos. A toda hora. Agora Joel ia entrar para o restrito clube de pais orgulhosos! Que dia!
“We are the champions”
Não gostava muito de música estrangeira. Não entendia as letras. Mas essa música sempre tocava quando seu time era campeão, então devia ter uma mensagem bacana!
Joel e sua esposa sempre se dedicaram para dar todo o suporte para a filha estudar nos melhores colégios e ter toda a estrutura para conseguir seus objetivos. A entrada na faculdade de medicina foi uma notícia leve para seus ouvidos calejados de problemas diários. (A mensalidade da faculdade privada, nem tanto). Tinha cumprido seu papel de pai.
“Como nossos pais”!
É isso! Minha nossa, ele já sentia os olhos marejados, pela linda homenagem da filha, que reconheceria todo o esforço e sacrifício do pai e da mãe.
Mais uma pedra de gelo. Um pouco mais de whisky. Gastou uma grana nos livros, equipamentos para laboratório e agora nos exibíveis pra festa de formatura, nas bebidas, nos cordãozinhos que piscam e nos chinelos personalizados. Mas ia valer a pena! Ah se ia! Já podia ver a cara de inveja da tia Lindalva!
JANAÍNA SOBREIRA MATOS
Seu coração acelerou com o anúncio do nome da filha no equipamento de som! La vem ela! Já podia escutar a Elis ao fundo!
Não soube o que fazer quando os primeiros acordes do mais novo sucesso do MC Saleta invadiu o salão de festas. A filha descia até o chão.
Chão.
Chão.
Chão. Chão. Chão.
Tinha que fugir da Tia Lindalva.
Colocou mais uma dose, pegou seu óculos de estrelinha e foi dançar a valsa.
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