Romero adorava acompanhar tretas.
Confusão, barraco, discussão.
Qualquer situação que gerasse o mínimo de desentendimento já
o fazia interromper tudo o que estivesse fazendo, para acompanhar a peleja.
Briga de vizinho? Lá estava o Romero com o ouvido colado na
parede.
O Chefe deu uma bronca no colega? O relatório ficava pela
metade até que Romero descobrisse qual a burrada cometida.
Batida de trânsito? Ele passava devagarzinho, acompanhando
tudo ao som da buzina do carro de trás.
E assim seguia a vida até que finalmente uma antiga paquera
ressurgiu na vida de Romero.
Na verdade, Fernanda, seu grande amor platônico e com
certeza alma gêmea para toda a eternidade.
Surgiu assim, no meio da rua. Num esbarro ao atravessar a
faixa de pedestre.
Meio atrapalhada no início, a conversa logo tornou-se desinibida
no bar da esquina, com a relembrança de momentos fantásticos há muito
esquecidos por ela, mas não por ele.
Ela divorciada, sem filhos. Ele sem filhos, nunca casado.
Trocaram telefones e marcaram de um dia sair para continuar o papo.
Era o dia mais feliz da vida de Romero. Estava prontinho,
cheiroso e arrumado para apanhar a mulher da sua vida e dar continuidade ao que
não tinha começado, mas tinha sido interrompido.
Ao girar a chave na saída de casa, escutou um sinal sonoro.
O alerta do whatsapp informava sobre a chegada de um vídeo que envolvia motel,
unhas e um tal gordinho da saveiro.
Estava sendo considerada A treta do ano! Saiu até em jornal
de circulação nacional.
Girou a chave de volta, sentou-se no sofá e apertou o play.
Fernanda podia esperar.